Pon un microsello (discográfico) en tu vida (XLI)


Conta-nos uma recordação de índole musical que guardes da infância ou da adolescência.
Creio que existem diversos momentos determinantes dessas alturas na minha formação musical. Um deles está relacionado com o facto de ainda muito novo ter forrado o sótão dos meus avós com posters dos mais variados artistas dos 80’s, tendo esse espaço servido para eu e os meus amigos ouvirmos alguma de música que conseguíamos arranjar, já que não existia nenhuma loja de discos num raio de 100 Kms. Assim, é normal que tivesse uma atracção muito grande pelas tendas de venda de cassetes nas feiras, local onde uma vez consegui convencer o meu pai a comprar-me uma cassete pirata com o White Album dos Beattles. Mais tarde comecei a perceber que muitas das minhas amizades estavam relacionadas com a música e um amigo muito em particular era uma autêntica enciclopédia, já que tinha um conjunto de cadernos e folhas soltas com apontamentos sobre centenas de bandas. Creio que, perante esta recordação, vou tentar arranjar o número de telefone dele. Tenho curiosidade de saber qual é a ligação dele na actualidade com a música.

Qual foi o primeiro disco que compraste?
Bem a tal cópia pirata do White Album dos Beattles, quando devia ter uns 8 ou 9 anos. Mais tarde quando os meus pais me compraram uma aparelhagem, lembro-me que o primeiro disco que comprei foi o “Coliseu”, disco ao vivo dos Madredeus, pois queria conhecer mais sobre a banda que tinha uma música tão bonita como o pastor. E acho que o problema foi mesmo ter comprado um primeiro disco, já que quase virou vício!

Outlands - Love Is As Cold As Death
Que motivações, influências e inspirações reconheces na tua editora?
Primeiro que tudo a vida e a forma como decidimos vivê-la, depois existe o vinho, a fruta acabada de colher, o mar, os livros usados, as bicicletas antigas, as colecções, as cartas escritas ao entardecer, o chá, as amizades, as viagens, os discos encontrados ao acaso, o cheiro a pão e as conversas que jamais podem ser recuperadas.

Tal como estão as coisas, qual foi o impulso que te levou a criar uma editora?
O impulso final terá sido uma viagem a Berlim, mas antes disso está uma longa história. Quando passaste grande número de horas ao longo da tua vida a ouvir música, acaba por se transformar em algo natural e acabas por esquecer o estado das coisas sempre que acreditas que és capaz de criar um projecto válido. Talvez há 20 anos as coisas estivessem melhores, mas também seria muito mais difícil vender um disco para a Indonésia, por exemplo.

A que tipo de pessoa surge a ideia de começar uma editora?
Creio que ao mais diverso tipo de pessoas, mas determinados tipos de projectos só podem resultar de alguém verdadeiramente apaixonado pela música e com espirito de aventura.



Porque razão se chama LebensStrasse Records?
Como te disse o impulso final para a criação da editora nasceu durante uma viagem a Berlin. Nessa altura fiquei em Prenzlauer Berg, que se encontrava no seu auge e ao longo das ruas podias deparar-te com os mais diversos projectos que pudesses imaginar. Na generalidade, pertenciam a jovens que tinham apostado em desenvolver aquilo com que sempre haviam sonhado, o que de uma certa forma acaba por ser bastante inspirador. Eis então, que perto da Alex (que curiosamente deu título a um trabalho que adoro dos Thieves Like Us) tive que parar até que o sinal de uma passadeira mudasse para verde. Em frente tinha uma placa com o nome de uma rua e imaginei como ficaria ali LebensStrasse… ficava bem! Uma rua da vida ou a vida da rua seria o mote perfeito para um projecto, que mais tarde se formalizou como uma editora.

Quantas horas semanais dedicas à editora?
Depende, tudo depende. Mas cada vez começam a ser mais, sendo que por vezes alguns dias completos.

Slow Magic
Incorpora-te algum lucro?
Até hoje, todo o lucro que conseguimos ter, voltámos a investi-lo em novos discos.

Quais as satisfações que já te deu?
Cada vez que um disco novo chega da fábrica existe uma satisfação enorme, depois existem muitas outras que são difíceis de descrever, ainda que esteja totalmente consciente delas.

Sofreste alguma decepção?
Sim, claro! Mas tentamos encará-las de uma forma relaxada deixando-nos rir, pois algumas até se basearam em factos bastantes ridículos. Dessa forma aproveitamos o nome da empresa que gere a editora e que se chama Eterna Comédia para justificar o que se está a passar.

Gostarias de ganhar a vida com a editora?
Acho que não me apetece pensar sobre isso.



O que tem a música para ti ara que lhe dediques o teu esforço e o teu tempo?
A poesia na sua forma original deve ter sido feita sob a forma de ruídos e talvez de um bailado denso e desarticulado. Hoje é que olhamos para as coisas como estando todas separadas em disciplinas diferentes e, de alguma forma com razão, pois existem muitas contaminações provenientes do ser em que nos fomos transformando à medida que as nossas cidades foram aumentando de tamanho. Mas creio que será essa fonte primitiva que desde muito cedo me chamou para a música. Depois existe o facto de se poder dar uma interpretação corporal e/ou auditiva à música.

Gostarias que a repercussão da editora fosse maior, ou sentes-te mais cómodo assim?
Trabalhamos todos os dias para que a editora e os artistas a ela associados possam beneficiar de melhores condições. Isso, logicamente, só poderá acontecer crescendo, mas encaramos esse processo como algo que depende do trabalho, mas não como uma obsessão. Há que saber fazer envelhecer a editora e sentir conforto em cada etapa.

Love Echo - I Promise You Always The Sky
Como consumidor de música qual é o formato que mais te preenche? Na editora a maioria das edições são em vinil, até que ponto este formato é importante para ti?
Adoro os concertos em pequenos clubs de banda em início de carreira, mas se tiver que escolher um formato para escutar a música em casa será o vinyl com toda a certeza.
Na editora essa escolha acaba por se reflectir, já que todas nossas edições até hoje, com excepção de um EP de Go Dugong, que foi lançado digital e gratuitamente no Natal passado, existem em vinyl. Talvez fosse possível explicar esta escolha através de uma metáfora: existem hoje sistemas de aquecimento que imitam uma chama, mas não crepitam, não têm cheiro, não dão parra torrar um pão a desoras e, possivelmente também são menos perigosas.

Existe alguma gravação, de entre as editadas, pela qual sintas um carinho especial?
Existe sempre uma relação muito profunda com cada edição. Cada uma acaba por ser como um filho pelo qual se tem um carinho muito especial pela forma como é, mas que nunca consegue ultrapassar o amor que se sente por cada um dos irmãos. Cada uma tem as suas histórias, que sinceramente nos têm enriquecido a vida. Disse a vida, não se iludam!

Tens algum exclusivo para nós? Conta-nos algo sobre os planos que têm para o futuro.
Como não? Os Tape Waves já estão a gravar o seu longa duração de estreia, que deverá sair no segundo semestre deste ano. Surgirá também o disco de estreia do projecto croata Cloudfactory



Normalmente, quase todas as pessoas que conheço que criaram uma editora andam metidas noutras actividades artísticas e relacionadas com a música. Algo para contar?
Bem desde a adolescência que qualquer um de nós tem uma ligação à música, o João esteve ligado a alguns grupos com amigos e, ainda que ele nunca mo tenha contado, tenho quase a certeza que era um menino do coro. Eu ainda tentei uma vez formar uma banda de noisecore com alguns amigos, mas foi algo efémero e ainda bem ou já não teria garganta, depois veio uma fanzine e várias ligações à radio, que abandonei depois de abrir o leitor de CD que estava a tocar! Existiu ainda algum tempo em que pensei desvendar ao mundo que eu era o Burial, mas vi-me ultrapassado pelo presidente do nosso país.

A que editora fazemos a próxima entrevista?
Wasser Bassin.

Puedes saber más de LebensStrasse Records y comprar sus referencias aquí y escuchar sus ediciones aquí.

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